Na última semana de novembro, o Hotel Rio Othon Palace, em Copacabana, Rio de Janeiro, recebeu a premiação do Concurso Cultural Coreano para estudantes universitários, uma realização da Embaixada da República da Coreia, com o apoio da empresa AsiaColors. Na ocasião, o ministro sul-coreano Kwon Young Seup aproveitou para convidar os presentes a participarem dos diversos eventos a serem promovidos pelo governo sul-coreano ano que vem, em razão da comemoração do 60° Aniversário do estabelecimento das Relações Diplomáticas entre Brasil e Coreia do Sul.
“Atrações culturais, políticas e econômicas serão realizadas em 2019. Será uma oportunidade para os dois países fortalecerem sua histórica parceria. Em especial, em breve, o acordo de intercâmbio de estudantes deve entrar em vigor. Esta medida vai possibilitar que jovens brasileiros possam passar as férias na Coreia e também terem uma experiência de trabalho no país. Tenho certeza que com este acordo vamos atingir nosso objetivo de aumentar o intercâmbio de jovens entre as duas nações”, disse o ministro, que juntamente com o Segundo Secretário Kang Kiseok Michael parabenizou e entregou prêmios aos participantes do concurso.
O evento ainda impulsionou os participantes a testarem suas habilidades audiovisuais na formulação de vídeos de até três minutos de duração, que explicassem ao público temas relacionados à cultura coreana: culinária, Hanbok (vestimenta tradicional da Coreia), Taekwondo, ou Pansori. Desta forma, três categorias foram estabelecidas: textos opinativos, vídeos criativos e produção de texto. Os três primeiros lugares de cada segmento receberam as seguintes quantias em dinheiro: 1° lugar R$ 1.000,00, 2° lugar R$ 700,00 e 3° lugar 500,00.
Segundo a diretora executiva da AsiaColors Marcelle Torres, o concurso foi realizado em outubro e novembro deste ano, através de um edital publicado pelo site da embaixada. A também pesquisadora em península coreana explicou que foram recebidas 39 inscrições válidas, em que foi possível observar a criatividade, qualidade nas pesquisas, dedicação e compromisso dos inscritos para com a proposta do concurso. Tais características também foram salientadas por Kwon Young Seup: “vejo o quão estão engajados e interessados na cultura coreana. Recebemos peças originais, analíticas e bastante úteis para entendermos como os brasileiros vêm a Coreia e agradeço por isso”, ressaltou o ministro.
Antes da premiação iniciar, foi exibido como parte da programação, o filme “Run Off”, também intitulado “Take Off 2”, lançado em 2016 e dirigido por Jong-hyun Kim. A produção é baseada em fatos reais e conta a história da formação do primeiro time feminino de Hóquei no gelo da Coreia do Sul. O enredo tem como pano de fundo o empoderamento da mulher e a questão da reunificação das duas Coreias, já que uma das personagens, a principal jogadora do time, é a norte-coreana Lee Ji-Won(interpretada por Soo-Ae), que veio para a Coreia do Sul, mas acabou deixando para trás a irmã Lee Ji-Hye (vivida por Park So-Dam). Elas eventualmente se encontram nos Jogos Asiáticos de Inverno, realizados em Aomori no Japão em 2003.
Após a projeção cinematográfica, os prêmios da categoria texto opinativo foram entregues à Juliana Perazzi de Sá (3° lugar), Beatriz Mulan Rosalino (2° lugar) e Akemi Barbosa de Novaes (1° lugar). A segunda categoria “Vídeo criativo” abordou questões culturais da Coreia. O tema mais abordado foi a culinária que, de acordo com os vencedores, trata-se de um aspecto marcante para a sociedade coreana, pois envolve mais que alimentos e sabores. É também um momento coletivo que pode ser caracterizado como um ato de respeito, de afeto e cuidado. No terceiro lugar houve um empate entre Jéssica Regina Peixoto e Bruna Reis Travasso; já o segundo lugar foi para Giullie Christinne Fernandes Lima Pereira e o primeiro para Talita da Silva Oliveira Costa.
A terceira e última categoria a ser premiada foi “Produção de Texto”. O tema norteador para a dissertação foi a relação entre Coreia do Sul e Coreia do Norte. Leticia Luciano de Aroucha ganhou o terceiro lugar com o texto “A importância dos encontros de Kim Jong-un e Moon Jae-in“; Beatriz Fernandez de Oliveira ficou em segundo, com a redação “Comércio, cultura e paz”; e, finalmente, em primeiro lugar, Victor Mignone com a produção textual de título “A aproximação entre Coreia do Sul e Coreia do Norte e o que esta representa para o Brasil”.
No evento ainda ocorreu um sorteio de bolsa de 50% do Instituto Nam Ho Lee, escola de estudos coreanos, que fica no bairro do Cachambi, na zona norte da capital carioca, sorteada para o participante Henrique de Almeida Ferreira; e para o encerramento, um jantar foi oferecido aos presentes. Durante o final das atividades, foi possível ao Koreapost conversar com algumas ganhadoras do concurso e convidados. Em grande medida, o Kpop (grupos de música pop) e o K-Dramas (novelas coreanas) continua sendo a porta de entrada para a maioria dos estudantes que se interessam pela cultura coreana. Tal condição, ao longo do tempo, acaba por levar a uma ampliação da curiosidade e interesse dos amantes da Coreia a outras áreas e temas vinculados à política, à economia e à cultura.
Akemi Barbosa de Novaes, por exemplo, tem 21 anos e é estudante de direito na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Descendente de japoneses, sempre acompanhou o mundo da indústria cultural japonesa. Ela teve seu primeiro contato com a cultura coreana através da série “To the Beautiful You”, dirigida por Jeon Ki-sang e baseada no manga Hisaya Nakajo, “For You in Full Blossom”. Desde então tem aprofundado seus conhecimentos em outras questões e hoje almeja especializar-se na área do direito que versa sobre propriedade industrial e também o que concerne à área de direito autoral. “Gosto muito de como a Coreia lida com estes temas. Quem baixa música ilegalmente por lá, por exemplo, é punido”, explica Novaes.
Contudo, existem aqueles que almejam transformar sua paixão cultural pela Coreia em uma carreira no mundo da arte. Beatriz Pollo, de 18 anos, quer ir para o país asiático, no intuito de tornar-se uma produtora de “music videos”, estudando e produzindo vídeos no mercado de Kpop. Para ela a melodia e os temas mais bem elaborados a fizeram apreciar o estilo único de fazer arte da indústria musical sul-coreana.
Já a vencedora do concurso Jessica Peixoto, 27 anos, estudante de jornalismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), pesquisa a onda Hallyu (coreana) e relação entre Brasil e Coreia. Ela planeja fazer mestrado no país e tem o objetivo de impulsionar um projeto pessoal: uma revista especializada em cultura pop coreana. Para ela, há muito espaço fornecido a grupos musicais já conhecidos, limitando espaço para os mais novos. “Os grupos de Kpop coreanos têm uma grande influência das antigas “boybands” norte-americanas, mas souberam adaptar e, assim, criar algo novo. A preparação completa dos artistas e a qualidade da arte fazem a diferença”, relata Peixoto.
O concurso ainda pôde contar com a participação de entusiastas como Vania Velloso Pereira Neto, arquiteta e filósofa, que trabalhou por anos na Vale do Rio do Doce. Grande conhecedora da cultura brasileira, ela busca agora expandir sua compreensão e conhecimento sobre a cultura coreana, em razão da produção de um livro de ficção. Especificamente, tem muito interesse pela Ilha de Jeju e pela zona desmilitarizada (DMZ, sigla em inglês), que acolhe um parque, onde é resguardada uma das maiores diversidades em vida selvagem no mundo. O parque é cuidado por ambas as Coreias.
Segundo o jornal português “O Público”, em reportagem de Claudia Carvalho Silva, publicada em fevereiro deste ano, no interior da DMZ, ao longo da faixa que se estende por 250 quilômetros de comprimento e quatro quilômetros de largura, habitam milhares de espécies de animais que, em centenas de casos, estão ameaçadas em outras regiões do mundo.
A jornalista, citando nota da “Smithsonian Magazine”, informa que a biodiversidade e os níveis baixos de poluição na localidade permitem tal condição. De acordo com Silva, uma das espécies residentes na fronteira mais fortificada do mundo é o grou-da-manchúria, ave seriamente ameaçada (estima-se que existam menos de 3000 por todo o mundo). Ela convive com os grous-de-pescoço-branco (Grus vipio). Estas aves são vistas como um símbolo de paz na Península Coreana. “É curioso que tal espaço, um dos mais armados, conflituosos e tensos do mundo, abrigue esta espécie de oásis de paz e de resguardo pela vida. Creio ser uma perspectiva norteadora para um futuro mais construtivo e positivo para as Coreias e o mundo”, conclui a arquiteta Velloso.
Para Marcelle Torres, nos últimos 70 anos, a península coreana viveu momentos de tensão, mas agora, com o apoio da comunidade internacional, encontra-se uma nova fase de paz e prosperidade. “Uma nova era passou a ser desenhada este ano com a realização de diversos encontros históricos entre os dois países. Sobre este processo histórico, o Brasil tem importante papel a cumprir”, afirma Torres. De acordo com a também especialista em assuntos da Coreia, a sociedade brasileira pode contribuir para a paz na península.
“As relações diplomáticas entre Brasil e Coreia do Sul iniciaram em 1959. Fomos o oitavo país do mundo e o primeiro latino-americano a oficialmente reconhecer a República da Coreia. A imigração coreana em nosso país iniciou em 1963. Possuímos a maior comunidade coreana da América Latina, com mais de 50 mil coreanos que aqui residem. E o mais emblemático é que somos o único país latino-americano a ter relações diplomáticas com ambas as Coreias e suas respectivas representações. Portanto, é preciso uma reflexão sobre nosso papel nesta questão crucial, o que também nos leva a incentivar e expandir o já crescente interesse dos brasileiros pela Coreia”, conclui a pesquisadora.
Fonte: KoreaPost
Disponível em: https://www.koreapost.com.br/kp-reporter/coreia-e-brasil-planejam-acordo-para-intercambio-de-estudantes-universitarios/

Premiação do Concurso Cultural Coreano
Siga-nos e compartilhe: